domingo, 12 de fevereiro de 2012

GANHEI NA LOTERIA

Em companhia de velho e bom amigo, tomava eu um refrigerante, no “Amarelinho”, numa das mesas de calçada. O vendedor da loteria, depois de haver estudado a direção do vento, fingiu que um bilhete se largara de sua mão. E o “premiado” veio acabar a meus pés…

— Isto é a sorte a seu favor, moço — disse-me. Compre este elefante.

— Elefante não voa…

Um outro, em plena Avenida Rio Branco, deixou cair um bilhete. Apanhei o papel, mesmo sabendo o que me ia acontecer, e fui atrás dele:

— Isto caiu de sua mão.

— Obrigado. Mas vai ver que foi a sua sorte, que fez com que esta águia caísse, para o senhor ganhar a sorte grande.

— Águia não cai assim. Voa…

Outros gritam pregões que divertem:

— 1713! Olhe o 1713! Quem nasceu nesta data?… (“Brício de Abreu compraria este bilhete, se estivesse aqui” — pensei, certa vez…).

São os truques dos vendedores de bilhetes, para abusar da superstição da freguesia. E os supersticiosos compram, graças a isso, a sorte que não vem…

Terça-feira, à saída de restaurante, fui abordado por um desses vendedores:

— Veja, cavalheiro. Tenho o n° 25713. É, exatamente, a chapa de seu carro. Vai correr amanhã. Custa, apenas, 25 mil cruzeiros. Compre, por favor. É a sua sorte.

— Não. Obrigado.

— Amanhã, o senhor poderá receber 75 milhões, antes de sair o Cruzeiro Novo.

— Se receber 75 milhões, morrerei de emoção ou acabarei na Colônia Juliano Moreira, entregue aos cuidados do Dr. Raphael Quintanilha. Prefiro continuar pobre, mas ajuizado.

— É a sorte.

— A sorte não dá duas vezes. Já deu a primeira, sendo o número do meu carro.

O companheiro a meu lado ainda sugeriu um gasparinho, mas o vendedor queria negociar o bilhete inteiro. Em conseqüência, passei a quarta-feira preocupado. Se desse o número de meu carro, não poderia queixar-me. Eu mesmo chutara a sorte. E enfrentei terrível drama de consciÊncia.

Na quinta-feira, outra vez em companhia do mesmo amigo, examinei a lista de resultados da Loteria Federal. Ao ver o 1° prêmio, não contive o grito:

— Heureca!

— Perdeu?

— Não; ganhei!

É fácil de imaginar minha alegria: dera o 8418 e eu ganhara 25 mil cruzeiros…

TELHA SOLTA

POSTO – Adir Augusto Gonçalves e Nilo De Lucca promoveram churrasco, dia 22 último, no Quilômetro 22 da Rio-São Paulo, para inauguração do posto de gasolina “Tio Luís”. Compareceram autoridades, jornalistas e convidados especiais. No melhor da festa, um Gordini e um Aero-Willys se beijaram violentamente, bem em frente ao posto. Como ninguém se feriu, o desastre foi grandemente aplaudido pelos presentes, os motoristas acabaram convidados para o churrasco e incontinente ambos os carros foram recuperados, dando margem a que os serviços do posto entrassem, oficialmente, em função… E só não se bebeu gasolina!…
CRÔNICAS – E Fernando Sabino publica, pela Editora do Autor, mais um livro com suas excelentes crônicas: A Companheira de Viagem. O volume é produção brasileira, mas a página com a dedicatória veio de Londres. Sabino é o escritor leve, acessível, bem-humorado, cujos trabalhos recebem sempre aplausos justos do público e da crítica.

(In Telhado de Vidro. Publicado no Diário de Notícias, Rio de Janeiro, 29 de janeiro de 1966)

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