domingo, 1 de abril de 2012

AUGUSTO VASSEUR

MORREU, há poucos dias, sem noticias nos jornais, esquecido do grande público, o músico e compositor Augusto Vasseur. Carioca nascido a 3 de setembro de 1899, contava 70 anos de idade. Pianista e violinista, tocou em sinfônicas, chefiou orquestras, fez arranjos, trabalhou durante muitos anos na Rádio Nacional e lançou dezenas de composições populares: Morena (xote), Evocando (valsa), Sorrindo (valsa), Nonô (choro), Meu Lamento (valsa), Trinas (fox), Bobinho (fox), Bondade (valsa), Nostálgica (valsa), Saia da Baiana (maxixe).


Augusto Vasseur
Figura alegre de boêmio, excelente amigo, Vasseur – e não poderia ser de outra forma – virou meu personagem no livro Memórias do Café Nice (Subterrâneos da Música Popular e da Vida Boêmia do Rio de Janeiro), que está sendo lançado pela editora Conquista. Relembro que ele me declarou, faz pouco tempo:

– Quando eu estava sem dinheiro, ia para o Nice, levando lápis e papel de música. Logo aparecia quem quisesse que eu escrevesse. Eu ganhava dez cruzeiros por peça. Cem cruzeiros por orquestração. Em duas horas, tomando cafezinho, defendia minha féria...

O chorinho Nonô, Vasseur compôs para homenagear o pianista Nonô, Romualdo Peixoto, tio de Ciro Monteiro e tio de Cauby, Andiara, Araken, Iracema e Moacir Peixoto. E o fox Trinas foi em homenagem ao pintor.

Comentei, em palestra com Vasseur:

– Curioso: você fez a música Trinas, fox, e o pintor era Trinas Fox.

– Não. Ele não se assinava Trinas Fox. Passou a usar esse nome, depois do êxito obtido pela música.

Até outro dia, encontrávamo-nos, quase todas as tardes, na sede da SBAT. Vasseur vinho sempre contar a última anedota. Tinha sempre fato novo para narrar. Não havia quem esperasse a ata de reunião do Conselho da SBAT, poucos dias depois de o abraçarmos pelo passagem de seu 70º aniversário, registrasse o voto de pesar pela morte do bom companheiro de todas as tardes.

Em muitas ocasiões, conversamos sobre o livro que eu estava escrevendo. Augusto Vasseur queria sempre colaborar. Quando me via, recordava episódios ocorridos entre compositores, no Café Nice que tanto freqüentamos e que acabou entrando para a história de nossa música popular. E me dizia, invariavelmente:

– Estou ansioso. Quero ser dos primeiros a lê-lo.

Mas se foi quase no dia em que a editora começou a distribuir o livro. Não chegou a ver o trabalho. Nem tive tempo de acrescentar seu nome à página de saudade que abre o volume e na qual figuram nomes notáveis do cancioneiro, amigos que não podem ser esquecidos.

Peço, portanto, aos que lerem o livro, a bondade de colocar, mentalmente, e nome de Augusto Vasseur na lista em que figuram Antonio Maria, Ary Barroso, Assis Valente, Custódio Mesquita, Geraldo Pereira, Haroldo Lobo, Ismael Neto, José Maria de Abreu, Lamartine Babo, Lauro Maia, Marino Pinto, Orestes Barbosa, Vicente Paiva e Wilson Batista.

TELHAS SOLTAS
• TATUAGEM – Qualquer psicólogo pode informar a quem se interessar pelo assunto o que significa a tatuagem. Basta lembrar que são raros os delinqüentes, os marginais, as decaídas que não ostentam tatuagens...
• CHICLES – Qualquer médico pode informar o mal que faz o hábito de mascar chicles. Muitas crianças já morreram sufocadas pela condenável massa. E é fácil de verificar o número das que passaram a sofrer de males estomacais e fé outras moléstias, em conseqüência do hábito de mascar chicles...
• PING-PONG – Qualquer professor pode informar que ping-pong é palavra inglesa, importada junto com o tênis de mesa, e que, há muitos anos, já foi aportuguesada e figura em qualquer dicionário de nosso idioma, como pingue-pongue...
• CONCLUSÃO – No entanto, o chicles Ping-Pong traz em sua embalagem uma espécie de papel para decalcomania, paia que as crianças aprendam a fazer tatuagens...

ÁGUA-FURTADA
DÊEM LIVROS de presente pelo Natal. A Brasiliense lançou Administração Organizada, de Albert K. Wickesberg, em tradução de João M. P. Albuquerque. Livro útil. *E, PARA CRIANÇAS, Lapinha de Jesus, o Natal acontecendo num arraial do interior brasileiro. Em prosa e em versos. Logo na abertura do álbum, um poema de Carlos Drummond de Andrade: Acontecimento. Lançamento da Vozes. Presépio de Frei Tiago Kamps. Texto de Adélia Prado e Lázaro Barreto. Fotos de Gui Tarcísio Mazzoni.

(In Telhado de Vidro. Publicado no Diário de Notícias, Rio de Janeiro, 17 de dezembro de 1969)

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