A Academia Brasileira de Letras vai realizar eleições, para
preencher a vaga deixada por Álvaro Moreyra na cadeira que pertenceu a José do
Patrocínio (fundador), Mário de Alencar e Olegário Mariano.
Concorre o mestre Antenor Nascentes.
Dizem os estatutos, em seu Art. 1º, que a entidade “tem por fim a
cultura da língua e da literatura nacional.” Em primeiro lugar, a cultura da
língua. No entanto, a Academia, no momento, conta, em seus quadros, tão-só, um
filólogo: Aurélio Buarque de Hollanda Ferreira.
Há movimento na Academia Brasileira de Filologia contra o fato de
ser a Casa de Machado de Assis o órgão oficial do idioma. Acham os cultores da
língua que se não justifica a soma de poderes enfeixados pelo Pequeno Trianon,
com apenas um filólogo participando dos seus trabalhos. Tal movimento tende a
vincar, e, conseguintemente, a desprestigiar a Academia de Letras.
Morrerá, todavia, no nascedouro, com a eleição do Mestre Antenor
Nascentes. É ele, sem sombra de dúvida, dos mais respeitáveis filólogos
brasileiros.
Como se não bastasse, fácil seria de verificar a contribuição
cultural do Mestre à Academia Brasileira, e – já então em caráter oficial – ao
País.
Autor de dezenas de trabalhos indispensáveis ao conhecimento da
língua, Professor Emérito do Colégio Pedro II, dono de admirável formação
clássica, Antenor Nascentes deu-nos o Dicionário Etimológico da Língua
Portuguesa, cujo terceiro tomo deverá sair ainda este ano, junto com a
reedição dos dois primeiros. E chegaria obra de tamanha erudição e de tão
definitiva importância, para classificá-lo como o candidato certo à Cadeira nº
21.
Mas não fiquemos por aí. Quando a Academia Brasileira de Letras
necessitou realizar seu dicionário – o dicionário oficial do Brasil – convidou
o Mestre Antenor Nascentes para elaborá-lo. É ele, por conseguinte, o autor do
dicionário da Academia. E, agora, concorre pela primeira e última vez a uma
eleição.
Não o elegendo, obviamente, a Academia de Letras estaria repudiando
o próprio dicionário. Estaria como que deixando de legitimar um filho, para
criá-lo espúrio.
E não acredito que isso aconteça.
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Antenor Nascentes |
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