sábado, 20 de novembro de 2021

ELEIÇÕES NA ACADEMIA

A Academia Brasileira de Letras vai realizar eleições, para preencher a vaga deixada por Álvaro Moreyra na cadeira que pertenceu a José do Patrocínio (fundador), Mário de Alencar e Olegário Mariano.

Concorre o mestre Antenor Nascentes.

Dizem os estatutos, em seu Art. 1º, que a entidade “tem por fim a cultura da língua e da literatura nacional.” Em primeiro lugar, a cultura da língua. No entanto, a Academia, no momento, conta, em seus quadros, tão-só, um filólogo: Aurélio Buarque de Hollanda Ferreira.

Há movimento na Academia Brasileira de Filologia contra o fato de ser a Casa de Machado de Assis o órgão oficial do idioma. Acham os cultores da língua que se não justifica a soma de poderes enfeixados pelo Pequeno Trianon, com apenas um filólogo participando dos seus trabalhos. Tal movimento tende a vincar, e, conseguintemente, a desprestigiar a Academia de Letras.

Morrerá, todavia, no nascedouro, com a eleição do Mestre Antenor Nascentes. É ele, sem sombra de dúvida, dos mais respeitáveis filólogos brasileiros.

Como se não bastasse, fácil seria de verificar a contribuição cultural do Mestre à Academia Brasileira, e – já então em caráter oficial – ao País.

Autor de dezenas de trabalhos indispensáveis ao conhecimento da língua, Professor Emérito do Colégio Pedro II, dono de admirável formação clássica, Antenor Nascentes deu-nos o Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, cujo terceiro tomo deverá sair ainda este ano, junto com a reedição dos dois primeiros. E chegaria obra de tamanha erudição e de tão definitiva importância, para classificá-lo como o candidato certo à Cadeira nº 21.

Mas não fiquemos por aí. Quando a Academia Brasileira de Letras necessitou realizar seu dicionário – o dicionário oficial do Brasil – convidou o Mestre Antenor Nascentes para elaborá-lo. É ele, por conseguinte, o autor do dicionário da Academia. E, agora, concorre pela primeira e última vez a uma eleição.

Não o elegendo, obviamente, a Academia de Letras estaria repudiando o próprio dicionário. Estaria como que deixando de legitimar um filho, para criá-lo espúrio.

E não acredito que isso aconteça.

Antenor Nascentes
(In Telhado de Vidro. Diário de Notícias, Rio de Janeiro, 13 de janeiro de 1965)

Nenhum comentário:

Postar um comentário