quarta-feira, 1 de março de 2023

RIO, CIDADE MARAVILHOSA

O “Douglas” preparou a descida, fez lá o que eles chamam de “problema” e montou na pista. Quando eu pensava que a pista ia acabar, o avião voltou, fez curvas e conseguimos pousar. Abriram-lhe a barriga e nós, os apêndices, descemos.

A moça bairrista suspirou:

– Graças a Deus, estamos, novamente, em São Paulo.

Ganhou sorriso de ratificação do pai, também bairrista, mas nascido em Juazeiro do Norte, de onde saiu com oito anos de idade, para crescer em Taubaté e vir a ser negociante num escritório da Avenida São João.

Livrei-me de todos e me enfiei num táxi. O motorista, filho legítimo do Brás, se pôs a vomitar queixas amargas contra a vida, enquanto não chegávamos à Avenida Ipiranga.

Nascido e criado em São Paulo, lamentou, sinceramente, que sua cidade só pensasse em crescer, mas esperava muito do Prefeito de então, o qual conhecia bem as necessidades da povo paulistano.

O sinal fechou:

– Cidade ideal para se morar é o Rio de Janeiro. O povo é bom, gentil, delicado. Um trocador do ônibus ou um motorista tratam os passageiros com amabilidade. Os choferes de táxis do Rio não rejeitam fregueses e há automóveis à disposição de todos, a qualquer hora do dia ou da noite.

O sinal abriu:

– No Rio não existe hora em que o trânsito esteja apertado. As autoridades fazem tudo para melhorar a vida da população. Nada falta. Os gêneros são mais baratos e ninguém pensa em roubar nos preços. Não há ladrões assaltando na via pública. Todos os crimes são descobertos, imediatamente, pela polícia.

Olhei para ele, espantado. Outro sinal fechou. Parou o carro:

– No Rio há grande número de escolas e hospitais, e tudo de graça para os mais necessitados.. Aluguel de casa é barato. Os apartamentos são amplos, confortáveis, arejados, claros. Há água à vontade.

O sinal abriu:

– Tudo isso por quê? Porque todo mundo trabalha. Ninguém anda vagabundeando. Nos dias úteis, os cinemas ficam às moscas. Há filas nas bibliotecas públicas. As livrarias são muitas e têm grandes lucros, porque a gente gosta de ler. Não há ruas esburacadas.

Caiu num buraco de rua, soltou um palavrão, cuspiu para fora:

– A Prefeitura tem verbas para gastar na conservação das ruas. Os políticos não fazem demagogia nem são os eternos caçadores de votos. Apesar de ficar à beira do mar, no Rio não se vende contrabando, porque todo mundo se respeita.

Avenida Ipiranga e desabafo final do motorista:

– Ai, ai! A vida no Rio é a melhor do mundo.

Parou o carro e perguntei:

– O senhor conhece o Rio?

 Não.

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(Publicada inicialmente com o título “Depoimentos”, na seção Telhado de Vidro. Shopping News, Rio de Janeiro, 19 de maio de 1957. E, posteriormente, com modificações, nos seus livros de crônicas: Ah! Saudade Engraçada!.., editado pela Livraria São José, em 1962; e Telhado de Vidro, volume II, editado pela BRADIL, em 1967)

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