domingo, 25 de dezembro de 2011

NATAL

         Os presentes de Natal deixam-me a idéia exata de que os anos têm sido arrancados da folhinha, de que eu próprio vou recebendo, no corpo, na alma, no coração, as tatuagens do tempo.
         Houve o Natal do carneirinho manso, que meu pai me deu para ser saudade hoje. Houve o da flauta, o do velocípede, o da bicicleta.
         Depois, o das obras de Júlio Verne.
         Mais adiante, o da Enciclopédia e Dicionário Internacional.
         Um dia, fui visitar casa amiga. E a empregada me anunciou:
         – Aí está um rapaz.
         Desde então, o Natal se foi transformando em pijamas, camisas, gravatas, lenços.
         Noutra visita:
         – Aí está um moço.
         Notem que, no caso, moço é mais velho que rapaz...
         Meu Natal passou a faturar abotoaduras, alfinetes de gravata, carteiras de cédulas ou de níqueis, cintos e agendas.
         Agora, quando visito algum amigo, as empregadas me anunciam:
         – Aí está um senhor.
         Quando o dono da casa é cortês, ri:
         – Que senhor, que nada, Maria. É o Iolando. Entra velho.
         O velho, dito assim, me soa melhor. Acho horrível ser senhor.
         Mas a verdade é que este Natal me deixou mágoa estranha. Porque pessoa querida, das que sempre me presentearam no nascimento do Cristo, apareceu com uma caixinha embrulhada em papel multicor. Todo alegria, abri o embrulho e a caixinha.
        Eram uns suspensórios!...

TELHA SOLTA

REPETIÇÃO – Depois que Oscar Ornstein montou as peças Boeing-Boeing e Mary-Mary, ambos os títulos com palavras repetidas, ficou sendo chamado, pelos íntimos, de Ornstein-Ornstein...

(In Telhado de Vidro. Publicado no Diário de Notícias, Rio de Janeiro, 25 de dezembro de 1970*)

* Obs.: Esta crônica foi também publicada, com modificações, no livro Telhado de Vidro, volume I, editado pela BRADIL, em 1967.

Um comentário:

  1. Nestor de Holanda - Meu grande professor na redação do "Diário de Noticias", foi meu grande mestre na Arte de Escrever. Gambarra era outro jornalita do "setor de polícia". O Dr. Prudrente de Moraes Netto, era o Redator Chefe. Nestor era um pernambucano grande na arte de escrever. Amigos de todos. Agradeço a Deus rte-lo conhecido.

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