Os
presentes de Natal deixam-me a idéia exata de que os anos têm sido arrancados
da folhinha, de que eu próprio vou recebendo, no corpo, na alma, no coração, as
tatuagens do tempo.
Houve
o Natal do carneirinho manso, que meu pai me deu para ser saudade hoje. Houve o
da flauta, o do velocípede, o da bicicleta.
Depois, o das obras de Júlio Verne.
Mais adiante, o da Enciclopédia e Dicionário
Internacional.
Um dia, fui visitar casa amiga. E a
empregada me anunciou:
– Aí está um rapaz.
Desde então, o Natal se foi
transformando em pijamas, camisas, gravatas, lenços.
Noutra visita:
– Aí está um moço.
Notem que, no caso, moço é mais velho que rapaz...
Meu Natal passou a faturar abotoaduras,
alfinetes de gravata, carteiras de cédulas ou de níqueis, cintos e agendas.
Agora, quando visito algum amigo, as
empregadas me anunciam:
– Aí está um senhor.
Quando o dono da casa é cortês, ri:
– Que senhor, que nada, Maria. É o
Iolando. Entra velho.
O velho,
dito assim, me soa melhor. Acho horrível ser senhor.
Mas a verdade é que este Natal me
deixou mágoa estranha. Porque pessoa querida, das que sempre me presentearam no
nascimento do Cristo, apareceu com uma caixinha embrulhada em papel multicor.
Todo alegria, abri o embrulho e a caixinha.
Eram uns suspensórios!...
TELHA SOLTA
• REPETIÇÃO – Depois que Oscar Ornstein montou as peças Boeing-Boeing e Mary-Mary, ambos os títulos com palavras repetidas, ficou sendo chamado, pelos íntimos, de Ornstein-Ornstein...
(In Telhado de Vidro. Publicado no Diário de Notícias, Rio de Janeiro, 25 de dezembro de 1970*)
* Obs.: Esta crônica foi também publicada, com modificações, no livro Telhado de Vidro, volume I, editado pela BRADIL, em 1967.
Nestor de Holanda - Meu grande professor na redação do "Diário de Noticias", foi meu grande mestre na Arte de Escrever. Gambarra era outro jornalita do "setor de polícia". O Dr. Prudrente de Moraes Netto, era o Redator Chefe. Nestor era um pernambucano grande na arte de escrever. Amigos de todos. Agradeço a Deus rte-lo conhecido.
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