domingo, 4 de dezembro de 2011

PRA FRENTE, MULHERES!

QUANDO a escritora Dinah Silveira de Queiroz quis candidatar-se ao direito de vir a ser sepultada (E que isto ainda leve muitos e muitos anos, são os meus votos!) no mausoléu dos imortais, criou questão maior que a da falta de carne nos açougues da Guanabara. Não foi a primeira vez que uma mulher se rebelou contra a discriminação acadêmica, mas, em todas as ocasiões, acabou perdendo.

Dinah Silveira de Queiroz obteve, como pretexto da negativa, a alegação de que a Academia da Esplanada do Castelo seguia a inspiração da Academia de Paris, onde mulher não passava da soleira da porta – era espécie dos reservados que, à entrada, têm o aviso: “Cavalheiros”...

A escritora insistiu. Quis transformar o reservado da Esplanada em “Misto”, o que não se vê em nenhum botequim. Nada conseguiu. Continuou a mulher impedida de entrar na Academia e nos reservados de homens...

Acontece, agora, algo extraordinário: a Francesa acaba de aceitar uma candidatura feminina. Decidiu, portanto, transformar-se em “Mista”. A escritora Dinah Silveira de Queiroz não perdeu tempo: vai habilitar-se à poltrona azul nº 3, desocupada depois do falecimento do Prof. Aníbal Freire, autor dos livros Bancos e Suas Espécies, Do Poder Executivo na República Brasileira, Relatórios do Ministério da Fazenda, Discursos e Pareceres E Votos. E há grande expectativa de se saber se a carne voltou aos açougues, mas se a Academia da Esplanada continuará negando o direito de a mulher também vir a ser sepultada no mausoléu dos imortais...

De fato, não se compreende o preconceito de alguns acadêmicos. Sente-se até na arrumação dos móveis da Academia que lhe faltam mãos femininas. O ambiente de barbados, sobretudo quando grande parte já passou daquela idade em que o cristão consegue impor sua força de vontade em qualquer circunstância, é ambiente pesado, sem graça, sem atrativo. Tanto que em todo sanatório geriátrico há enfermeiras e freiras...

Além do mais, o Petit Trianon necessita de colaboração feminina, inclusive, no idioma. Há vocábulos e expressões cujas adaptações não foram ainda oficializadas e a verdade é que literatos sem prendas domésticas não sabem bem aportuguesá-los. Por exemplo: À la carte, béguin, bergère, biscuit, bonbonnière, boudoir, bouquet, bureau, charme, chez, délivrance, déshabillé, écharpe, éclair, élan, ensemble, étagere, faille, garden-party, glamour, godet, hors-d’ceuvre, it, jabot, lingerie, liseuse, marquisette, ménage à trois, menu, midinette, moiré, negligé, nylon, pâté de foie gras, peignoir, petit-pois, pizza, plissé, rayon, rouge, sex-appeal, short, slack, sommier, soutien, tailleur, toilette, trottoir, muitos outros.

Portanto, em apoio à campanha da escritora Dinah Silveira de Queiroz, lanço daqui um brado de estímulo, sugerindo que fique como slogan do movimento, porque é bem dos dias que correm:

– Pra frente, mulheres!

(E não vamos confundir isso com “Mulheres pra frente”...)

TELHA SOLTA

CHEFE – De quando em vez, ouço o noticiário O Seu Redator-Chefe, da Rádio Globo. Dois locutores abrem o programa em versos quebrados e mal rimados. Depois, entram com as notícias. Na segunda-feira em que foi realizado no Teatro Municipal, espetáculo para entrega dos prêmios dos vencedores do Festival Internacional da Canção, os versejadores hertzianos anunciaram o evento para amanhã. Isso me espantou, porque a emissora pertence precisamente à organização que patrocina o FIC... E sexta-feira passada, os dois poetas falaram em dignatário, em vez de dignitário, de dignitarius, e fiquei esperando outro barbarismo semelhante, como dignadade, dignaficação, dignaficador, dignaticar etc...
LOBATO – Bom contista o Manoel Lobato! Estreou com o livro Garrucha 44, coberto de elogios da crítica, e, desde então, firmou-se. Conheço-o acho que há mais de vinte anos. Fomos companheiros na redação de Folha Carioca. Lobato era simples repórter, sem maiores pretensões. Foi viver em Vitória do Espírito Santo e, mais recentemente, em Belo Horizonte. É farmacêutico. Nas horas vagas, escreve. E escreve bem. Acabo de receber outro livro seu: Contos de Agora. Prefácio de Fábio Lucas. Recomendo-o aos telhadistas amigos. Lançamento da Edições Oficinas.

ÁGUA-FURTADA

LIVROS que merecem maior atenção dos telhadistas amigos: CORONEL DE BARRANCO, romance de Cláudio de Araújo Lima, lançado pela Civilização Brasileira. *DIMENSÃO ZERO, também romance, de Rezende Filho, em edição de Livros do Mundo Inteiro. *ESTRUTURAS POLÍTICAS BRASILEIRAS, de Álvaro Vale, pela Editora Laudes. *E FESTA, contos de Mário Garcia de Paiva, pela Artenova, 1º prêmio no Concurso de Contos do Paraná – Fundepar – 1970.

(In Telhado de Vidro. Publicado no Diário de Notícias, Rio de Janeiro, 10 de novembro de 1970)

(Obs.: A sigla FIC significa Festival Internacional da Canção.)

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